Santinato & Santinato Cafés
  • 18/03/2020

Não calendarize nossos cafezais!

Um texto sobre a importância de se conhecer o clima em que se cultiva o cafeeiro e suas intimas relações com adubação irrigação colheita pragas e doenças

Dr. Felipe Santinato; Roberto Santinato; Victor Afonso Reis Gonçalves

Acesse: www.santinatocafes.com

Dúvidas: fpsantinato@hotmail.com e 19-982447600 (whatsap)

            Nas aulas que tivemos na faculdade aprendemos de uma forma geral as condições climáticas favoráveis para a ocorrência de pragas doenças e suas relações com as fases fenológicas do cafeeiro. O aprendizado engessou o pensamento do estudante em um calendário e este adequado somente para as áreas mais tradicionais em que se planta café Sul de Minas Gerais e São Paulo.

            Mais adiante no mercado de trabalho aprendemos com as empresas o posicionamento dos produtos com base no “calendário” fenológico básico do cafeeiro em que por exemplo existem duas fases de pré e pós florada em que devemos combater a phoma ou ainda que no verão devemos combater a ferrugem e assim por diante. Tais informações relevam o fato de que o cafeeiro cultivado em climas diferentes apresenta ocorrências fenológicas diferentes e que isto afeta todos os fatores produtivos existentes e consequentemente todas as ações envolvidas no manejo da lavoura.

            As mudanças climáticas o comportamento das novas variedades a expansão do cafeeiro em novas áreas tem feito com que as recomendações engessadas nesses “calendários” perdessem sua “eficácia” tanto para o controle de pragas e doenças quanto para a adubação irrigação podas colheita e etc. O conhecimento deve ser mais aberto dinâmico e maleável o suficiente para que se façam adequações nos manejos embasadas nos resultados das pesquisas e vivencia no campo com sabedoria.

Com relação a adubação:

            Culturalmente não raro é escutar que a adubação do café deve ser feita em três momentos: no início das chuvas entre o natal e ano novo e no carnaval. Brincadeiras a parte este “sistema” de parcelamento funcionou(a) em algumas situações porém deixa a desejar em muitas outras a depender da região clima produtividade e precocidade da variedade.

            A adubação não pode ser nem ser muito precoce nem muito tardia devendo ser balanceada conforme a época das chuvas irrigação e época de colheita. Em cada parcelamento deve-se atribuir uma dose correspondente a demanda da planta naquela fase fenológica e não uma divisão simples do nível do nutriente pretendido pelo número de parcelamentos. Caso contrário a chance de depauperamento (die-back) ou de crescimento insuficiente (carga baixa na safra seguinte) é maior (mais informações no Livro Composição Química do Cafeeiro de Santinato R & Santinato F 2019).

            Peguemos aqui dois municípios cafeeiros com clima e tipo de solo muito diferentes.

Tabela 1. Características principais das localidades estudadas.

Local Altitude m Temperatura média ºC Pluviosidade mm Física do solo CTC cmolc/dm3 Área avaliada ha
João Pinheiro MG 771 22.6 1.406 Arenoso 277 1.750
Carmo do Paranaíba MG 1050 20.6 1.535 Argiloso 701 1.800

*Dados das altitudes fornecidos pelas fazendas. Dados climáticos obtidos do INPE.

            Pensando em uma adubação nitrogenada para uma carga de 60 sacas/ha a dose recomendada seria de 440 kg/ha de N para Carmo do Paranaíba e de 500 kg/ha de N para João Pinheiro. Isto pois em João Pinheiro o cafeeiro cresce 44% a mais que em Carmo do Paranaíba devido as temperaturas mais elevadas (Santinato & Santinato 2019).

            Com relação as fontes utilizadas faríamos a opção de ureia na fertirrigação (16 parcelamentos em Carmo do Paranaíba e 24 parcelamentos em João Pinheiro) para atender 30% da demanda total de N e o restante parcelado em três adubações de cobertura sendo sulfato de amônio em João Pinheiro e Nitrato de amônio em Carmo do Paranaíba. Optou-se pelas fontes sulfato de amônio em João Pinheiro devido ao elevado risco de lixiviação que o nitrato apresenta em solos arenosos (20% de argila somente).

            O número de parcelamentos da fertirrigação em Carmo do Paranaíba foi de 16 contra 24 de João Pinheiro devido a impossibilidade de se adubar nos meses de maio junho e julho devido às baixas temperaturas que ocorrem nessa localidade (<19ºC) de forma nessas o cafeeiro apresenta metabolização muito baixa não havendo resultados positivos nessas adubações em áreas frias (Tabela 2).

Tabela 2. Comparativo entre temperaturas para os municípios de Carmo do Paranaíba e João Pinheiro MG.

Local Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out Nov. Dez. M. anual M. prima. M. verão
João Pinheiro 23.8 23.8 23.2 22 20.8 20.3 20.9 23 23.8 23.3 23 22.7 22.6 23.4 23.2
Carmo do P. 22.4 22.4 21.4 19.8 18.4 17.8 18.9 20.5 21.4 21.6 21.5 20.9 20.6 21.2 21.9

*Temperaturas médias do dia e da noite.

            De acordo com a Tabela 2 também é possível se nortear com relação ao término previsto das adubações afim de evitar os meses frios em cada localidade. Fato não existente na localidade de João Pinheiro (todos os meses quentes). Nesse caso a época de termino esta ligada somente a fenologia do cafeeiro época de florada época de granação e época de colheita.

            De acordo com Santinato & Santinato (2019) para evitar depauperamento nas lavouras deve-se fornecer 70% no N total absorvido pela planta e frutos até a fase de granação. Os resultados foram obtidos do trabalho de composição e extração química do cafeeiro na média de seis colheitas em três localidades e podem ser vistos na Figura 1 a seguir:

Figura 1. Extração de N do fruto inteiro (grão mais casca) ao longo dos três principais estágios de maturação dos frutos (durante 240 dias de formação) em três localidades (Carmo do Paranaíba – MG; Luiziânia – GO e Luis Eduardo Magalhães – BA).

  • Produtividades médias (6 safras) de 52 sacas/ha para as áreas quentes e irrigadas (LEM e LU) e 32 sacas/ha para áreas de clima ameno e sequeiro (CP)
  • EI = Expansão inicial; EG = Expansão/granação; M = maturação.

Fonte: Santinato & Santinato (2019)

Além do dreno frutos temos o dreno vegetação que consome anualmente grande quantidade de nutrientes dentre eles o N. Fixou-se portanto o consumo de N para vegetar o suficiente para atender a demanda vegetativa necessária para “criar” capacidade produtiva para atender tais médias de produtividade obtidas:

Figura 2. Extração de N do fruto inteiro (grão mais casca) e nas estruturas vegetativas (raiz tronco ramos e folhas) ao longo dos quatro principais estágios fenológicos do cafeeiro para produtividades de 52 sacas/ha (clima quente e irrigado) e 32 sacas/ha (clima ameno/sequeiro) na média de seis safras.

Fonte: Santinato & Santinato (2020).

            Diante disto deve-se traçar a estratégia de adubação afim de atender a demanda da planta na época correta sem antecipar e sem atrasar como dito anteriormente. Assim preparou-se as Figuras 3(a e b) adiante. Note o quão diferentes foram os períodos de extração do cafeeiro para as duas localidades e para as cultivares precoces médias e tardias. Lembrando que mesmo que em Carmo do Paranaíba a maturação seja mais demorada as adubações devem terminar “cedo” também devido a impossibilidade de adubar no período frio.

            As figuras não apontam o momento correto de se fazer o parcelamento e sim a época de acordo com a extração e fenologia do cafeeiro de se atender x% da demanda total do nutriente podendo as adubações serem parceladas da forma mais conveniente possível de acordo com cada estratégia. Vale ressaltar que doses (cada parcelamento) acima de 100 kg/ha de N não são indicadas devendo ser mais parceladas ou melhor distribuídas ao longo do período de adubação.

Figura 3. Esquema de adubação: Demanda de N (porcentagem do total aplicado) em função dos dias transcorridos após a colheita para três cultivares (Bourbom Amarelo = Precoce; Catuaí Vermelho IAC 144 = Moderada; IPR 100 = Tardia) segundo anotações das épocas médias de florada granação e colheita desta localidade.

  • Anotações:

1 – Período de pós colheita: Agosto (padronizou-se)

2 – Florações mais intensas ocorreram em 2019 entre 15/10 a 15/11

3 – Com base no histórico das Fazendas o período da granação até o ponto de maturação há um intervalo de 105 a 135 dias respectivamente para João Pinheiro e Carmo do Paranaíba respectivamente.

4 – O período de floração do IPR 100 foi de 15 a 30 dias mais tardio que das demais cultivares.

5 – O período de floração das cultivares precoces e médias foi o mesmo.

Fonte: Santinato & Santinato (2020).

Diante de todos esses aspectos abordados temos que para se fazer a recomendação de adubação do cafeeiro há muito mais do que apenas seguir um calendário engessado de recomendação muito menos que uma recomendação de uma região sirva para outra.

Com relação a irrigação (estresse hídrico):

            A irrigação do cafeeiro deve ser realizada visando suplantar a perda de água ocorrida diariamente. A perda de água ocorre pela evapotranspiração e é calculada por uma série de fatores (mais informações nos Livros: Irrigação na cultura do café de Santinato R e Fernandes A.L.T 1996;2002;2005;2008;2012). Comumente vemos a irrigação ser feita por conveniência sem qualquer critério o que pode refletir em insuficiência e consequentemente prejuízos produtivos e/ou excesso levando a contas de energia onerosas e desnecessárias.

            A floração do cafeeiro está ligada a muitos fatores. Trata-se de uma fenômeno altamente complexo e até hoje não esclarecido. Primeiramente tem-se que no Brasil o período de diferenciação se inicia entre fevereiro/março variável conforme a latitude em que se cultiva o café arábica (Paraná à Bahia). Esse período é influenciado pelo clima tanto pelas temperaturas quanto pela pluviosidade ou irrigação que vai afetar a disponibilidade hídrica. Com a queda das temperaturas e/ou redução na quantidade de água no solo as gemas ficam dormentes. Essa dormência possui durabilidade imprevisível e com o aumento das temperaturas ocorrência de dias nublados aumento da umidade relativa do ar e/ou retomada do fornecimento hídrico (chuvas ou irrigação) ocorrem as floração que podem ser variáveis quanto a sua frequência e intensidade.

Têm-se que o cafeeiro é cultivado em localidade em que ocorrem chuvas mesmo que poucas ao longo de todo o ano e também localidades que ocorrem déficits hídricos severos de até 7 meses sem chuva. Com relação as temperaturas e outros fatores climáticos distintos em cada localidade existem evapotranspirações que atingem 180 mm no mês (mais que o suficiente para levar ao cafeeiro ao ponto de murcha permanente) cuja a reposição pode ser impraticável e os danos irreversíveis e outras bem baixas cuja a suplementação se dá com a ocorrência de pequenas chuvas ou com uma simples irrigação de poucas horas. O cafeeiro também é plantado em solos arenosos (até 10-20% de argila somente) e argilosos e isto está diretamente ligado a capacidade de retenção de água e a velocidade necessária de reposição de água.

            Peguemos aqui João Pinheiro MG e São João da Boa Vista SP:

  • João Pinheiro MG situado no Norte de Minas Gerais. A estação do INPE fica à 760.4 m de altitude Latitude 17.7º temperatura média de 226ºC e precipitação de 1.406 mm.
  • São João da Boa Vista SP (Temperatura média de 201ºC à 764 m na latitude 2158º e precipitação de 1.493 mm);

Figura 1. Balanço hídrico para João Pinheiro MG e São João da Boa Vista SP.

Fonte: Santinato & Santinato (2020).

            João Pinheiro é uma localidade em que o cultivo do cafeeiro obrigatoriamente exige irrigação São João da Boa Vista não. Devido às elevadas evapotranspirações e baixa capacidade de retenção de água dos solos arenosos de João Pinheiro deve-se irrigar praticamente todo o período seco que vai do final de abril a outubro/novembro além dos veranicos que ocorrem nos demais meses. Isto caso contrário a capacidade de campo pode abaixar muito ultrapassando o limite confiável e suportável do sistema de irrigação para repor a tempo a quantidade de água necessária. Nesse tipo de região trabalhar com a capacidade de campo baixa significa perder raízes reduzir o aproveitamento de nutrientes e conviver com este risco mencionado anteriormente de forma que deve-se buscar sempre a CC de 100% (impossível atingir).

            Por outro lado como a variação (amplitude) das temperaturas é menor que em outras localidades irrigar o ano todo pode vir a desencadear múltiplas florações com algumas delas sendo inconvenientes (fora de época e mínimas) fato este que torna-se uma dificuldade na colheita e pode inclusive reduzir um pouco a produtividade visto que as “mini-florações” antecipadas ou atrasadas (fora de época) pouco vingam e seus frutos ou caem no chão precocemente ou não granam a tempo de serem colhidas. Diante disto existe a prática do estresse hídrico que objetiva reduzir o fornecimento hídrico no durante algum tempo durante o período de dormência afim de promover uma uniformização maior da florada e evitar tal ocorrência.

            Em solos arenosos a prática do estresse hídrico notadamente em lavouras mais jovens (sistema radicular ainda pequeno) é algo muito perigoso principalmente quando se faz recomendações de longos períodos de estresse podendo comprometer a vida útil da lavoura além do depauperamento e perda de produtividade das safras atual e próximas. Em lavouras adultas (mais de 10 anos) com sistema radicular mais bem estabelecido elevada ciclagem de nutrientes e fornecimento de matéria orgânica ou ainda em situações de lavouras um pouco mais adensadas os ricos são menores mais ainda existem. Os benefícios trazidos por tal prática podem não “pagar a conta” desses possíveis prejuízos.

            Outro ponto é que as gemas que estão dormentes encontram-se nos ramos do cafeeiro em diferentes estágios de desenvolvimento sendo afetados também pela intensidade de exposição solar e isto está diretamente ligado ao direcionamento de plantio auto-sombreamento declividade e quadro vegetativo das plantas. Em plantios circulares irrigados por pivô central têm-se praticamente todos os direcionamentos de plantio possíveis de forma que uma uniformização na padronização dos botões florais é praticamente impossível notadamente em lavouras mais velhas em que os frutos do terço inferior acham-se “escondidos” nos ramos e os frutos do terço superior totalmente expostos ao sol (Figura 2).

Fonte: Cassia et al. (2013).

Figura. Alguns dos possíveis direcionamentos de plantio do cafeeiro em um cultivo de pivô circular.

  • Eixo 1 = Direcionamento Leste/Oeste (adequado para uniformização); Eixo 3 = Direcionamento Norte/Sul (formação do efeito sol da manhã e sol da tarde com menor e maior intensidade de radiação solar em determinado período do dia); demais eixos são intermediários.

            Quando deseja-se aplicar a técnica em outras cultivares precoces e tardias as regras mudam novamente e as recomendações de calendário se torna ainda mais incipiente. Isso pois as cultivares precoces médias e tardias têm o inicio de sua diferenciação em épocas diferentes (semanas de diferença) a dormência comporta-se diferentemente o sistema radicular é variado (afetando a água disponível para as plantas) a sensibilidade ao estresse hídrico também é variada bem como a velocidade de amadurecimento dos frutos e tempo de alcance no ponto de colheita. Um dos maiores erros vistos é tentar aplicar a técnica em um pivô que contem duas ou mais cultivares sendo alguma delas precoce ou tardia. Quando ocorre o controle da irrigação único em cultivares com precocidades distintas o resultado é uma ampla “salada” de flores.

            Por outro lado em São João da Boa Vista um período de estresse hídrico quando as gemas estiverem em sua maioria aptas pode refletir num aumento da uniformização da florada com resultados positivos para o manejo da colheita mecanizada e frutos de melhor qualidade. Os riscos de atingir uma situação de perigo são muito pequenos e esta situação se assemelha a muitas outras localidades cafeeiras de clima mais ameno e solos mais bem estruturados podendo a técnica refletir em ganhos substanciais.

            Diante do exposto de tantos fatores envolvidos fica praticamente impossível poder calendarizar a prática do estresse hídrico principalmente extrapolando a recomendação para outras regiões principalmente as de clima quente e solos arenosos.

Com relação a ocorrência e controle de pragas e doenças:

            Praticamente calendarizou-se as aplicações para controle de phoma/ascochyta como sendo duas e devendo ser feitas nos períodos de pré e pós florada do cafeeiro. Não raro é encontrar situações em que ocorrem mais de uma florada considerada grande e menos ainda encontrar combinação de fatores climáticos favoráveis para a ocorrência desta doença fora destas épocas tradicionais.

            As floradas fora de época e a ocorrência de clima favorável para a ocorrência da doença fora da época calendarizada reflete em níveis de infecções elevados com perda de produtividade. Além disso acarreta em uma má percepção de controle do tratamento fitossanitário utilizado visto que a eficácia foi baixa e que as aplicações foram feitas na pré e pós florada.

            Para tanto temos que abdicar do calendário e aplicar em função da ocorrência das floradas aumentando o número de aplicações caso necessário além de aplicações extras em situações de clima favorável para a doença.

Figura 1. Ocorrência de phoma em floradas tardias. É possível notar os frutos da florada anterior sadios e a mumificação dos chumbinhos da florada mais recente.

Figura 2. Ocorrência de phoma em chumbões mês de novembro muito distante dos meses que ocorrem as pulverizações de pré e pós florada.

            A seguir temos um gráfico obtido no sistema de agroclimatologia da Cooxupé com uma possível previsão da época de colheita de vários municípios com base na época de ocorrência das floradas. Aqui é possível ver o quanto a maturação evolui diferentemente em cada região. Sendo assim como calendarizar aplicações para doenças em frutos tais como a cercosporiose?

Figura. Possível previsão de época de maturação apta para colheita em 15 municípios cafeeiros.

Fonte: Cooxupé.

            O posicionamento calendarizado para as aplicações contra broca-do-café também gerou prejuízos para as lavouras no últimos anos principalmente pela mudança da forma como a controlamos (novos inseticidas que requerem maior assertividade no “time” de aplicação). Como calendarizar algo que é dependente da época de ocorrência das floradas/frutos no estágio chumbão? Visto que a maturação é também diferente entre as regiões cafeeiras e dentro da própria planta entre os terços inferior médio e superior. A seguir para se ter uma ideia da variabilidade espacial da ocorrência de frutos no estágio verde nos terços inferior médio e superior e um pivô de café de 100 ha. Tal fato justifica a ocorrência de coeficientes de variação superiores a 50% em experimentos de broca (antes da transformação de dados) tamanha a variabilidade espacial da ocorrência desta praga em suas fases iniciais.

Figura. Variabilidade espacial de frutos ne estágio verde nos terços inferior médio e superior em 493 amostras dentro de um pivô de 100 ha em Presidente Olegário.

Fonte: Santinato F & Silva R.P. (2015).

            Ainda sobre as pragas com relação ao bicho mineiro têm-se que os produtos são registrados com base em testes realizados em seu predomínio em condições climáticas não tão favoráveis a ocorrência da praga. Dessa forma muitas vezes as doses registradas não apresentam boa eficácia para o controle desta praga em condições de elevada temperatura. Vide que quanto maior a temperatura maior a pressão do bicho-mineiro menor é seu ciclo e maior sua multiplicação. Isso leva ao produtor tomar medidas desesperadas aplicando vários produtos muitas vezes misturados com alteração de doses e etc. Dessa forma nos calendários em que se indica uma re-aplicação por exemplo após 60 dias nas condições climáticas mais quentes esta deve ser realizada muito antes para que não haja proliferação da praga e prejuízos econômicos muitas vezes irreversíveis.

            Por fim a ferrugem do cafeeiro tradicionalmente calendarizada com as aplicações via solo em novembro e/ou as aplicações via foliar em dezembro fevereiro e abril. Obviamente por tratar-se de uma doença de difícil controle quando estando em níveis de infecção moderados e com prejuízos notórios quando em infecção elevada (danos irreversíveis) a precaução é uma estratégia mais segura notadamente em regiões e propriedades que o “socorro” é mais dificultoso seja pela menor intensidade de mecanização seja pela frequência das chuvas.

            Notemos aqui um comparativo entre três localidades “eleitas” representantes de três tipos de cafeicultura: Franca: Cafeicultura tradicional paulista; João pinheiro: Cafeicultura em áreas “novas” no Cerrado do Norte de Minas e Caparaó: Cafeicultura de montanha na Zona da Mata de Minas Gerais.

Figura. Comparativo entre as condições climáticas (temperatura média umidade relativa do ar e pluviosidade) em três regiões cafeeiras.

Fonte: Dados do INPE. Interpretação de Santinato & Santinato (2020).

            Notáveis são as diferenças entre as regiões principalmente com relação a umidade relativa do ar que é um dos fatores principais para o favorecimento da ferrugem. João Pinheiro praticamente não apresenta condições favoráveis para a doença enquanto que no Caparaó as condições são constantes exceto nos meses mais frios. Já em Franca a condição se prolonga ao tradicional dos calendários ocorrendo ampla possibilidade de ferrugem tardia vide a UR favorável e a temperatura não tão baixa nos meses de maio e junho.

Com relação à época de colheita:

            Calendarizar a colheita é praticamente impossível visto que ela é definida por fatores climáticos fenológicos e antrópicos. Deve-se ater para a época das floradas época de amadurecimento dos frutos e riscos de queda acentuada de café. A época esta diretamente ligada a carga pendente exposição solar irrigação tipo de solo entre outros fatores. Entre 2014 e 2016 fizemos alguns trabalhos mensurando a quantidade de café que se desprende das plantas de forma natural lembrando que isto é variável de ano para ano e principalmente de região para região sendo afetado portanto pelas condições climáticas e pela produtividade.

Figura 1. Queda de café ao longo do tempo em três localidades.

Fonte: Santinato F & Tavares T.O. (2014); Santinato F & Silva R.P. (2015); Santinato F. & Silva R.P. (2016).

            Vale ressaltar que as chuvas ocorridas em Araxá no período estudado acarretaram em uma elevada queda de café superior até mesmo que em Patos de Minas que possui temperatura média maior. Notemos que em Patos de Minas em uma avaliação tradicional de maturação da planta inteira praticamente não há variação no estágio de maturação verde em 37 dias porém ocorre redução de mais de 20% nos frutos cereja e aumento progressivo de mais de 25% nos frutos secos e isto esta intimamente ligado a queda de café como pôde-se ver na Figura anterior.

            A época de colheita portanto deve ser antecipada julgando como adequado seu inicio conforme a maturação do terço superior atribuindo-se um limite de frutos secos neste terço variável de região para região com o intuito de colhe-los antes que se desprendam. Caso contrário todo o esforço e investimento para a obtenção de boas produtividades é perdido pois os cafés do chão apresentam deságio elevado e requerem operações onerosas e trabalhosas para seu recolhimento.

Conclusões:

            Conclui-se que o calendário tem a finalidade de apenas nortear alguns aspectos do cafeeiro em regiões tradicionais não podendo se extrapolado para demais áreas de cafeiculturas distintas. Porém para o sucesso da atividade deve-se rever tais conceitos conhecendo mais o clima de cada localidade para obter maior assertividade no manejo.

Dr. Felipe Santinato – Pesquisador e Consultor da Santinato Cafés; Pós doutorando IAC Campinas SP.

Engenheiro Agrônomo formado na UNESP Jaboticabal (05/08/2013) Mestre em Produção Vegetal pela UFV Rio Paranaíba (22/07/2014) Doutor em Produção Vegetal pela UNESP Jaboticabal (05/12/2016) trabalhando principalmente com Nutrição de plantas Colheita mecanizada do café e Agricultura de Precisão. Publicou dois livros 39 Artigos Científicos Nacionais e Internacionais 133 Trabalhos publicados na área cinco Capítulos de Livros nove Boletins Técnicos ministrou cerca de 69 palestras e treinamentos para agrônomos consultores e cafeicultores em todo território cafeeiro. Atualmente é aluno de Pós Doutorado no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) aonde realiza pesquisas objetivando aumentar a eficiência na utilização dos nutrientes na cafeicultura entendimento e redução da bienalidade produtiva e sustentabilidade do processo de produção de café. Também lidera um amplo projeto interinstitucional sobre resistência a seca bicho mineiro nematoides e produtividade com novas variedades em áreas irrigadas e de sequeiro em quatro localidades do Cerrado Mineiro e Goiano. Produz café em São Paulo e Minas Gerais presta consultoria em Fazendas e coordena  cinco Campos Experimentais (São João da Boa Vista SP; Patos de Minas MG; Rio Paranaíba MG; Araxá MG e João Pinheiro MG).

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